sábado, dezembro 17, 2011

Operação Coração

Pois é, o Natal está aí e com ele a promessa de preocupação para com os mais desfavorecidos. É tempo de nos lembrarmos de quem tem menos. E nesse sentido, olhem que bela recordação:
Cá está a prova, a cores e tudo.
Nem de propósito – um título da infame OPERAÇÃO CORAÇÃO: que acção pode ser mais solidária que esta?


Este tema é um bocado tabu nos dias que correm, ou não estivéssemos todos a viver um momento de Operação Coração forçada em nome de Portugal. Recuemos então no tempo.

Estávamos em Dezembro de 1994. O auto-denominado Glorioso passava por momentos conturbados. Margarida Prieto, a mulher do leme, e o seu primeiro-valete (por oposição a dama), Manuel Damásio, chegaram havia pouco tempo. Logo descobriram um buraco mesmo ali à sua frente. Não, não se tratava das obras do Colombo nem sequer do espaço que Tavares usualmente deixava livre no meio-campo. Era sim um buraco financeiro – um buraquinho de alguns milhões de contos, coisa pouca. Vai daí, Damásio, arguto, engendra as seguintes soluções:

- Aliena o maestro Rui Costa para Itália, consumindo uma soma indeterminada de lenços de papel no processo, devido às lágrimas e ranho vertidos, mas gerando um movimento neo-sebastiânico em torno da imagem do menino da Damaia que, à falta de melhor, sempre preencheu os facilmente impressionáveis corações benfiquistas durante os anos vindouros;

- Adquire Rei Artur para o banco, o grande bigode do futebol português, sobejamente laureado, mestre da táctica lírica e autor de frases como “todo o jogador é toxicodependente disto ou daquilo”, referindo-se a Caniggia, ou “o Benfica é um circo”, referindo-se a uma metáfora empregue numa obra de Vergílio Ferreira (não era nada, estou a brincar; referia-se mesmo ao Benfica);

- Dota Rei Artur de uma plêiade invejável de jogadores, como Preud’Homme. E… hã… já disse o Preud’Homme?;

- …E Nelo, Tavares, Clóvis, Stanic (antes de aprender a jogar à bola), Rui Esteves (o mago louro que fez 126 deliciosos minutos com a camisola rubra), Paulão (o defesa, que o avançado viria depois), Amaral (o que era do Sporting e não o coveiro) e não um, mas DOIS NOVOS EUSÉBIOS!: Akwá, com o menino Edgar já à espreita – fartura, meus caros, chama-se a isto fartura;

- Fecha contrato com a Parmalat, numa mega-parceria de contornos bíblicos, prometendo que o dilúvio de dinheiro seria tão grande que até Noé se borraria de medo perante aquela perspectiva de dólares e liras e escudos a jorrar ininterruptamente das tetas da multinacional dos lacticínios;

- Isto já devia ser suficiente, mas o melhor era rezar um bocadinho para que tudo corresse bem e por isso constrói a Capela da Luz, autêntica pièce de résistance, promovendo Preud’Homme a Saint Michel.

Para que não restem dúvidas, eis a diferença entre Amaral I (o tal que marcou o golo para a Supertaça nas Antas e que ainda hoje está para perceber como lhe puderam anular o píncaro da carreira) e Amaral II, o coveiro.


E estava aqui a fórmula do sucesso.

Chegados a Dezembro, porém, o dinheiro para as prendas escasseava e Margarida Prieto continuava a gastar o ordenado que seria para pagar o salário de Pedro Henriques, Abel Xavier, Kenedy e as importações colombianas do Caniggia em cabeleireiros, manicuras, ortodoncias, catálogos Avon, implantes de botox e arte sacra para decorar a Capela da Luz. Damásio pensou numa solução e contou-a a Margarida, mas levou uma chapada e calou-se. Depois levou-a a passear e a jantar fora e, enquanto lhe oferecia um anel de diamantes, voltou a contar-lhe a sua ideia: pedir, como um mendigo com dignidade fugidia, dinheiro aos sócios e simpatizantes, certificando quem contribuísse com um título que, sim senhor, atestava que o indivíduo em causa era benfiquista e muito facilmente burlável.

Ora bem, ora bem: aqui as versões dividem-se e a polémica acentua-se; há quem ache que a interpretação transcrita acima não foi bem aquilo que Damásio sugeriu, que essa é uma interpretação injusta, usada por detractores e por gente sem sentimentos; que aquilo era um grito de alerta, um toque para reunir, um simples e legítimo apelo à congregação de esforços para a salvação de um bem comum e que quem contribuísse veria reforçado o estatuto de “bom chefe de família” – uma espécie de “meu Deus!; nós temos o Nelo e o Tavares, caramba!, isso não chega para nos ajudarem? O que querem mais? Que vamos buscar o Hassan e o Paredão?” (e por acaso até iriam, na temporada seguinte. E o King.)

Margarida estava tão deslumbrada com o brilho do seu anel que achou fantástico, a iniciativa era genuinamente cristã, ou seja, era uma instituição das maiores do mundo a usar o seu enorme poder para sacar uns cobres aos pobres acólitos. Parecia-lhe muito bem, os católicos sobreviveram durante séculos com estes expedientes e a IURD prosperava com coisas parecidas e nem sequer dava um título em troca. Nosso Senhor estaria certamente orgulhoso. Ah, e enquanto o Diabo esfregasse o olho, se calhar ainda daria para ir buscar o Marcelo ao Tirsense (e deu. Toma, toma.)

Ainda hoje, ninguém sabe ao certo como deve ser encarada, em termos filosóficos, a Operação Coração: se um embuste perpetrado por uma direcção incompetente ou se um sincero estender de mão de inspiração religiosa. O certo é que o tema foi morrendo, por vergonha ou por esquecimento, e hoje quase ninguém, especialmente os benfiquistas, se recorda da Operação Coração, de ter comprado um título, de ter ouvido falar, de ter alguém conhecido que tivesse comprado, de ter um tipo muito maluco que era primo do Barbas que tivesse estado perto de largar a nota, o Jorge Máximo encolhe os ombros, hã?, o que é que foi?, o que é que é isso? Nah, isso são cenas do Pinto da Costa, são os lagartos que estão a inventar, etc. e tal. Mas as coisas não ficariam por aqui.

Pelos vistos, a Operação Coração não cativou por aí além face às expectativas iniciais – segundo “A Bola”, sempre tão insuspeita nestas coisas, apenas se angariou 180.000 contos. Era claro que o espírito natalício passava por uma fase de amargura. Se não era possível convencê-los pela emoção, então convençamo-los pela razão: a parte II deste peditório alargado designou-se OPERAÇÃO CABEÇA. Manteve-se o teor cirúrgico da operação (ainda não estava na moda o transplante da medula), mas desta vez o mote era mais “estamos mesmo com falta de cacau, pensem nesses 5 contos tão bem gastos no Benfica”. Mas ainda resultou pior e chegar à cabeça dos benfiquistas provou-se ainda mais difícil do que chegar ao coração. Da Operação Cabeça sobrou quase nada até hoje, nenhumas imagens, nenhum rumor, pelo que se presume que o falhanço foi rotundo. Ainda se pensou em fazer a Operação Joelho, algo que ficaria reservado mais tarde para o Mantorras, mas até Damásio, que declarara o rendimento mínimo às finanças, teve vergonha para tal. E Margarida, saída do solário, apenas desejava que “fosse o que Deus quisesse, só quero é não partir as unhas”.
A moda Outono-Inverno '94 do Benfica: Edgar, o benjamim (ou Eusébio XXVIII); Rui Esteves, o génio incompreendido; Nelo, numa pose anormalmente metrossexual; Akwá, o Eusébio XXVII; Abel Silva, o outro defesa-direito que se chamava Abel e não era Xavier; e Damásio, o mentor (cheio de frio).

Passado pouco tempo, Vale e Azevedo assumiria os destinos da nau encarnada. E então assistiu-se ao terceiro capítulo desta saga, com um pedido para doarem dinheiro ao Benfica. Porquê? Porque sim. Vale e Azevedo era um tipo pragmático. Não é preciso uma razão. Os motivos não interessam. Se quiserem mesmo saber, era tudo que estava contra o Benfica: a FPF, o Governo, os grandes interesses estrangeiros, a ONU, os números do Totoloto, até a UNICEF, se for preciso. O que quiserem. Abriu uma conta, deu o NIB e disse “agora despejem para aqui, sff”. Não há cá operações, nem partes corporais, nem títulos, nem nada: apenas um bolso aberto e uma conta pronta a receber. Podem conferir aqui este apelo.

E assim se passava a época natalícia nesse loucos anos 90. Não havia a Popota, mas havia o Benfica pronto para acender as luzinhas da árvore, com acções de solidariedade ímpares, jamais repetidas desde então. É justo recordar estes momentos tão marcantes. Como diria Vítor Paneira, em Agosto de 1994: “Temos condições para fazer uma época terrível”. Um visionário, este Paneira.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Élio Bruno Teixeira Martins

E se toda a tua vida fosse resumida num segundo apenas?

Uma brilhante faísca de genialidade ou uma apagada centelha de ineptude.
Qual escolherias?

Certamente a primeira, sem quaisquer reservas.

Põe-te na pele de um jovem de 25 anos assolado pelo pútrido fantasma da calvície precoce. Nasceste no Machico com sonhos afogados pelo Oceano Atlântico - o horizonte lá longe, no Continente. Um pote de ouro no final de um Arco-Íris interminável. Atravessaste a ciclópica mancha de água a nado, numa demonstração de inabalável força interior e assinalável potência braçal. Afinal, era esse o teu Destino. A tua salvação.

À Beira-Mar deste à costa, com as Chaves do sucesso na tua trémula mão direita. A fechadura mostrou-se inviolável. Guardaste a chave no bolso da esperança, mas não regressaste a nado ao Machico. Nem por um segundo duvidaste de ti mesmo. Procuraste a felicidade no destino comum a outros tantos compatriotas - Chipre, a nova Paris dos anos 70.

Porém, a salamandra do sucesso continuava a escorregar-te por entre os dedos - fria, húmida, fugidia. Esconde-se em qualquer falha do Muro das Lamentações, por mais pequena que esta possa ser. Porém tu, pleno de tikvá na alma, não te deixaste atemorizar. A tua crença carrega-te às costas, e sabes que um dia serás tu mesmo a carregar às costas a crença de milhares - quiçá milhões.
Por isso não desistes.

Regressas ao Continente Luso, com Chipre no retrovisor do cargueiro. Sem salpicos de dúvida ou arrependimento atravessas o crispado mar do insucesso.
Avistas de novo Beira-Mar.

"Desta será de vez!" apregoas de peito cheio.

Forças a entrada no palco maior do teu métier.
As coisas não correm pelo melhor, mas tu lutas, e lutas. Não desistirás nunca, porque o sucesso é uma inevitabilidade.

Até que chega o momento pelo qual sempre esperaste:
Aqui, agora, neste segundo, o Mundo abre-se perante ti.
Deus abre os portões da Imortalidade e estende-te um presente com ambas as mãos. De laçarote enfeitado.
É aquilo com que sempre sonhaste.

Noventa e quatro minutos e trinta segundos ficaram para trás - pela frente está o invicto Campeão Nacional, player de elite nas lides Internacionais. Condecorado, medalhado, poderoso, orgulhoso, forte e arrogante.
Mas naquela ocasião, inesperadamente, o Campeão tropeça.
Cambaleia.
Prepara-se para a queda, posiciona-se para a desgraça.
Só precisa de um pequeno - ínfimo, quase ridículo - empurrão.

É Golias à mercê de David. Naquele segundo apenas, naquele instante, tão inesperado quanto chocante.
E só tu o podes empurrar.

Sempre soubeste que o momento iria chegar um dia.
Os olhos do Mundo estão colados em ti. Carregas às costas a crença de milhões, contra a esperança de outros tantos.

O Universo dividido em dois. Desta vez não há Bem, nem Mal. Só tu David, e um Golias prestes a imortalizar-te como Herói - ou Mártir.

Posicionas-te, olhas o destino nos olhos e vês a sua face medonha desafiando-te num esgar malévolo.
É agora.

Atemorizas-te ou brilhas como uma supernova que escolheu deixar toda a sua vida para trás, dedicando-a por inteiro a um instante apenas - para cintilar como nunca ninguém antes cintilara?

O momento é teu, AGARRA-O!!
...
... e falhaste.

Falhaste de novo. Mas desta vez, meu amigo, o Mundo estava a ver.

Ajoelhas-te no relvado carregado de chuva, compondo com dolorosa perfeição uma trágica tela de decepção.
Mãos trémulas cobrem-te o rosto de vergonha.
A chuva, indiferente ao cenário, banha-te a prematura calvície com lágrimas cósmicas de uma estória repetida.

Deus deu-te a hipótese de escrever um triunfante epílogo para a tua própria existência.
Passou-te a pena celestial para a mão, mas foste apenas capaz de escrever um triste requiem.

Porém, a vida continua.

Ou será que não?

sexta-feira, novembro 18, 2011

Ironias do Destino

De vez em quando, rebuscando pelos arquivos, descobrimos quão irónico pode ser o destino. Atentem nesta foto publicada pelo Record online esta semana:
Ignorem o homoerotismo latente nesta imagem em que rapazes em trajos menores exuberam com demasiada proximidade. Estávamos em 2000, o mundo não colapsara, o casamento gay ainda era uma utopia e o FC Porto acabara de vencer a finalíssima da Taça de Portugal ao Sporting. Estes cinco rapazes (ou seis, com aquele tapado pelo Domingos - Alessandro, o cambalhota? - não vem ao caso) festejam a derrota do Sporting… desconhecendo que os seus destinos viriam a estar umbilicalmente ligados ao clube que acabavam de derrotar. Senão vejamos:

- Secretário: bom, na realidade, este não viria a ter relações futuras com o Sporting, para além de algum eventual riso dos seus adeptos pelas suas [inserir adjectivo à escolha] exibições. Mas nesse mesmo ano, Secretário já tinha entregado com os pés e ao cuidado de Acosta o bilhete para o título sportinguista, num episódio já deveras escalpelizado. A gratidão dos sedentos adeptos leoninos para com este [inserir substantivo condizente com o adjectivo introduzido acima] foi imensa. Tal foi a dimensão desta oferta que os médicos designaram o efeito da prenda de Secretário nos adeptos portistas como o “Reflexo de Chainho” – ou uma forte enxaqueca, simultânea a uma enorme incredulidade, traduzindo-se num levar de mãos à cabeça e num sibilino desabafo de “aaiiiiiiiiiiiii, que já fomos!”.

- Jardel: a maior cabeça do futebol indígena – definitivamente, não pela sua dimensão intelectual mas sim pela sua eficácia concretizadora usando a testa – viria, um par de anos depois, a fazer uma temporada brilhante no grémio de Alvalade. Nesse ano, monsieur Bölöni a été très content avec lui et son père, João Pinto, e tudo correu às mil maravilhas sob o signo do guaraná. Sol de pouca dura, porém, porque depois de piscinas e etc. a carreira de Super Mário ficaria como ele próprio nesta foto – de tanga.

- Domingos: a sombra de Jardel, que apenas jogara escassos minutos neste jogo, parecia ser o mais bem-disposto deste grupo, dançando e cantando com uma camisola do Sporting a cobrir-lhe as partes baixas. O Sporting era, aliás, o seu alvo predilecto e aquela camisola parecia uma espécie de troféu de caça. O canto de Alvalade já lhe tinha sido lançado havia pouco tempo, mas Mingos jurava fidelidade azul-e-branca. Pois é, passada cerca de uma década, eis que Mingos vê-se a liderar as hostes verdes-e-brancas e com um cabelo com muito mais estilo.

- Clayton: marcou um golo nesse jogo e estava a viver nos píncaros da sua carreira, depois de ter despontado no Santa Clara – o que, por si só, foi um feito. Depois, viria a ser trocado por esse eterno miúdo que nunca usou Clearasil que era Ricardo Fernandes e partiria de malas e bagagens para o Real Madrid (estou a brincar, era mesmo o Sporting) e aí conheceria os últimos e ténues raios de luz de uma carreira a descair para o ocaso. Há quem diga que se dedicou a fazer de garoto-propaganda da Pizza Hut. Mas deixem lá, que George, o seu sidekick no Santa Clara, após uma carreira nos Açores e nesse colosso venezuelano que é o Carabobo FC, certamente não fez melhor.

- Rubens Júnior – de facto, este não teve nenhuma relação especial com o Sporting. Ainda bem para o clube. Todas as fotografias têm o seu Emplastro e alguém que segura a Taça para que os outros se possam divertir à vontade.

domingo, novembro 13, 2011

Diferentes Similitudes

Quem não se lembra de Mbo Mpenza? Para quem não se lembra, eis umas pistas: veio para o Sporting no dealbar do ano 2000 e ajudou o grémio lisboeta a vencer o título que andava fugidio daquelas bandas como Ricardo Carvalho dos estágios da Selecção. Com ele assentaram arraiais em Alvalade César Prates, um lateral cristão com propensão para jogar com os calções subidos até às orelhas, so help him God, e André Cruz, um central que costumava derrubar corujas ensonadas com os seus pontapés certeiros disparados do cadeirão de onde soía jogar. Mpenza era do país do Tintin e talvez a sua família tenha servido de inspiração para a infame aventura desse sósia de Ronald Koeman pelo Congo. Ao contrário de Defour, confundido com uma oferta promocional que se oferece às pessoas à saída do metro em horas de ponta, parece que a factura do Standard Liège chegou a tempo e horas no seu caso.
Bem, mas digam-me lá que Mpenza não era uma versão do Seal de 1990? Aposto que a Heidi Klum não daria por nada e até aprovaria o facto de Mpenza ter uma cara menos cicatrizada que a foca cantora. Tudo isto para grande inveja de Javi García, o homem que coloca a mão em frente da boca e os cotovelos um pouco por todo o lado, que não consegue compreender porque é que “el negrón” ficou com uma loura que é modelo internacional e ele só conseguiu uma piscadela de olho da D. Maria das Dores, a empregada de limpeza sénior do Estádio da Luz com os dentes mais bonitos da zona, tanto um como o outro (há quem diga que foi por causa das cataratas dela).
 

Zé Pedro, o médio tecnicista sadino e não o guitarrista dos Rolling Stones portugueses, é um exemplo de polivalência. Por exemplo, com uns óculos escuros é o Howard Stern; com um bigode e uma mosca é o Frank Zappa; com uma bola nos pés é uma maravilha, mas não lhe peçam para correr.

Já Mário Loja, o veterano defesa que se fixou a distribuir bandarilhadas no Boavista, é o Pedrito de Portugal com os testículos ainda intactos. O Boavista que anda a tentar esquivar-se, ensanguentado, da estocada final. Foram anos de tourada que agora poderão sair caros. Esta é mesmo uma actividade cruel.


E Niquinha, o eterno dínamo vilacondense, e Sérgio China, outro motor que passeou o seu pulmão lá pelos lados dos Arcos? Não sei se são parecidos com alguém em particular, mas têm mesmo cara de duo de sertanejo. O duplo álbum prometido há mais de uma década, “China & Niquinha Come Alive”, está aí, à espera que a Discossete ou a Espacial lhe peguem – uma espécie de “Chinese Democracy” dos Guns N’ Roses, versão forró. Para já, o amarelo do ouro do disco que, por mérito, será deles, está distante, arisco como um Bolinhas à procura de linhas de passe para a finalização – mas, em contrapartida, os cartões amarelos que viram saltar como torradas fumegantes dos bolsos dos árbitros dão já para forrar as paredes de suas casas.

sábado, outubro 08, 2011

Pelo Trocadilho Fresquinho

“O que é Nacional é bom” é uma piada demasiado exaurida, que pretende juntar publicidade a massas, sentimento patriótico e futebol num só ente espirituoso, mas que continua a ouvir-se sempre que o Nacional ganha aos nossos rivais. Escrevi-o no mural do Facebook, displicente e apenas fiando-me no meu bom gosto. E também fi-lo em defesa do slogan centenário (ou quase) da renomeada marca de massas e farinha. Mas as coisas não correram bem, porque se há uma réstia de hipótese das coisas correrem mal, então as coisas correrão mesmo mal. Este é um dos corolários das Leiz de Murphy.


Estas Leiz foram criadas por volta de 1988 numa escarpa da ilha da Madeira, ainda o buraquinho do défice regional era uma coisinha pequenina do tamanho das orelhas do Dino, o furacão desengonçado.
Dino, na sua falsa lentidão, facturava golos num registo deveras digno para qualquer PME (Pequeno e Médio Estorvo), enquanto as Leiz tornavam-se mundialmente famosas. Mas o Murphy não. Quem era o Murphy? Quero lá saber. Veio de Liverpool e acabou na Madeira, como podia ter acabado nas Canárias, calhasse ter perdido a saída do paquete por lá.

Mas isso não vem ao caso. Estava a comentar o impacto da minha observação no Facebook.
A verdade é que fui copiosamente vergastado por um demolidor silêncio. Ninguém reconheceu a pertinência da minha observação. Os trocadilhos também têm direitos, mas quem os respeita? Será que a troika exigiu que a idade de reforma deste jargão também fosse aumentada, sei lá, para os 115 anos? Quem separa o trigo do joio no que concerne à boa arte de brincar com as palavras e os contextos, ou não estivéssemos a falar de um slogan com conotações cerealíferas? O Higino?

O Higino não está para se chatear. E eu também não vou chateá-lo. Vou deixá-lo subir essa Ladeira em paz, que já lhe basta carregar a cruz de ter um nome que rima com “girino”.
Mais íngreme que o Ladeira é o caminho que nos leva a ultrapassar velhos chavões jornalísticos. Em nome de manchetes de vácuo chapa-cinco e de uma suposta tradição sacrifica-se a originalidade. O gosto pelo Risco já não existe. Aliás, o gosto por jogos de tabuleiro em geral sublimou-se às mãos dos Triviais jogos de vídeo. E, quando se tenta combater o Monopólio da frase feita, haverá sempre alguém que irá resistir. É uma coisa mais certa que os balázios do Heitor aleijarem seriamente alguém.
O Heitor era o pé-canhão do povo, o Dinda perfeito, o Paulo Torres v3.0, o Barroso sem perturbações intestinais. Ele sim, abalava consciências, da mesma forma que abalava postes e redes. Um pontapé-canhão a sério era dizer que não se gosta no Facebook. Só para variar. Sempre seria melhor que a indiferença. Um tipo metia a foto do sobrinho e um gajo fazia um dislike à foto e comentava “esse puto é feio como tudo, sai ao tio… e ainda por cima com ranho a sair do nariz, grande porco”. Se uma publicação recebesse mais de 5000 dislikes iria a debate numa Comissão Parlamentar especialmente criada para o efeito. E quem seria o promotor dessa Comissão? Nada mais nada menos que o erudito William.

O William, esse central especialista da paradinha na marcação do penalty e do paradinho enquanto filosofia de jogo. Tem um curso superior, por isso deve estar no desemprego e, portanto, seria uma escolha lógica para representar a turba de dislikes do povo no Facebook, que é uma malta já de si um pouco a atirar para o desocupada. E em vez de fazer uma lista de amigos no Facebook, fazer só uma lista de gajos a evitar. Do género, “eh pá, se este gajo te pedir amizade esquece, porque ele só quer é pontos para jogar online”. Um dia, vou escrever ao Mark Zuckerberg e dizer-lhe qualquer coisa assim; “Hi, Mark. I think Facebook needs some improvements. And I have some ideas on that. As a matter of fact, I have Manny ideas.”
Não, não vou escrever-lhe. A culpa não é dele. Nem do Mark, nem do Manny. Embora aquele polícia lá atrás desconfie de alguma coisa.
Vou apenas aguardar. Estou consciente que a maior parte das pessoas não está empenhada nesta luta, agora que há coisas tão importantes no quotidiano do país por resolver, como saber novidades sobre a Casa dos Segredos, conhecer o namorado desta semana da Elsa Raposo ou até mesmo descobrir um comentário não acéfalo do Rui Gomes da Silva.

Vencerei com o tempo. Já estou a ver os contornos do meu triunfo: um dia, alguém há-de regurgitar a sua bifana regada com cerveja em cima do jornal, quando na apreciação da equipa do Nacional que venceu por 3-0 se ler “Este Nacional é mesmo bom”, tamanho será o bafio exalado por aquele título. Eu pelo menos irei acreditar que não será pelo facto de ter sido a vossa equipa a perder.

Nos próximos posts: como surgiu a macabra expressão “matar o borrego”, o porquê de tantas claques, após um “oooooh” de antecipação, insultarem a mãe do guarda-redes adversário aquando de um pontapé em profundidade deste e uma selecção dos melhores pontapés de baliza da época 1992-93, prestando assim homenagem ao lance de jogo mais incompreendido de todos (sim, o Luís Vasco e o Hubart estarão presentes).


domingo, agosto 28, 2011

One Hit Wonders - Tomo II

No post anterior, introduzimos carinhosamente a nova rubrica "One Hit Wonders" da mesma forma que o Sporting de Lisboa introduz reforços na equipa: à trolha, à pressa, atabalhoadamente e sem sucesso.

Não, a sério, até ficou giro.

Passemos então à segunda tentativa de enfiar a cultura musical dos 80's a martelo neste espaço boçal de insalubridade: todos a bordo do Paquete Playlist - esperemos por uma viagem agitada à medida que sulcamos as águas do Oceano Cromático.

Girando freneticamente em círculos na proa, o grumete Zé Bala.

Nome de guerra: José Dominguez
Comparação: MC Hammer – “Can’t Touch This”










Uma das regras-base para uma boa mixtape é abrir em grande estilo, com ritmos frenéticos e um “hook” repetitivo. O tinha tudo isso: estilo não lhe faltava, o ritmo nunca abrandava, e habilmente rimava. Porém, a finalidade do seu chinfrim era certamente duvidosa, tal como um livre do Pedrosa.

Style over substance, diziam eles. Reflexo da década da decadência. Do mesmo mal vivia MC Hammer. O calendário marcava 1990, mas a sua masterpiece berrava 1985 do alto de um falso pedestal “pop” esculpido a pés de barro e MTV awards. Um anacronismo em reverso. Um Bobo da corte glorificado com calças de Aladino, adorno capilar topo de gama, qual cereja no topo de um bolo comido e ferozmente cuspido um ano mais tarde por Kurt Cobain, Eddie Vedder, Layne Staley e restantes companheiros. Pragmatismo acima de tudo! Céu cinza e chuva de Seattle a cobrir almas pensativas de sobrancelha grave e sobrolho pesado.

O nosso MC não resistiu a esta mudança de atitude. Cedo rastejou pelas sarjetas da vida, recolhendo pedaços nojentos daquilo que outrora fora considerada uma carreira triunfante. O seu futuro seria traçado a tons de passado, um lembrete constante dos excessos de azeite de anos transactos…tal como Zé Bala, ícone fugaz de uma geração bolística ávida de criatividade e da vertiginosa velocidade de uma espiral que não acaba nunca. Ou pelo menos, nunca acaba em nada de jeito. Zé Bala fugazmente brilhou, apagou e partiu para nunca mais voltar. Algures encontrar-se-á com MC Hammer, e com um copito de Champomy de permeio, recordarão momentos fugidios de glórias vãs.


sábado, agosto 20, 2011

One Hit Wonders - Tomo I


One Hit Wonders.

Expressão demasiado associada com os Eighties, dadas as virtudes aglutinadoras dos tubos catódicos, que alegremente cuspiram o supracitado conceito através do canal VH1 e respectivas retrospectivas alicerçadas no pop da década da decadência.

Não obstante, o conceito de “One Hit Wonder” poderá ser de igual forma adaptado ao nosso tema favorito: a estomatologia.

E ao futebol também.

Deixemos então a estomatologia por um segundo (guardem os livros, por favor) e concentremo-nos no casamento perfeito entre One Hit Wonders dos anos 80 e a Bola Lusitana.

Ao jeito daquelas K7’s de compilações que fazíamos no secundário para impingir às miúdas que queríamos sacar, embarquemos então a bordo do Paquete Playlist, e esperemos por uma viagem agitada à medida que sulcamos as águas do Oceano Cromático.

- 1º Candidato:

Sorvendo um suco de acerola no porão, o primeiro imediato Bena.

Nome de guerra: Selim Benachour
Comparação: Cutting Crew - “(I Just) Died in Your Arms Tonight”

I keep looking for something I can't get

Broken hearts lie all around me
And I don't see an easy way to get out of this
(…)
The curtains are closed, the cats in the cradle
Who would've thought that a boy like me could come to this
Oh I, I just died in your arms tonight

Solitário, Selim limpa penosamente as lágrimas do rosto enquanto observa o relvado de expressão vazia cobrindo o olhar. Distante e penosamente ausente, qual last man standing numa batalha repleta de casualidades sangrentas. Corpos inanimados espalhados pelo relvado, entoando um requiem silencioso ao Vitória caído.

Emoldurando o deprimente cenário, um Coliseu de almas dilaceradas exige sangue. Uma amálgama de urros desesperados e lágrimas que queimam o próprio esqueleto do anfiteatro – e o espírito dos fundadores da Nação – encima os céus do Burgo, berço de um Império outrora orgulhoso.

Selim sabe que não há ponto de retorno. Não existe uma saída airosa, uma luz ao fundo do túnel. As luzes apagam-se, a cortina corre – final do 3º acto. Olá à 2ª Liga.

E Bena, alvo Cavaleiro da ordem de Vimaranes, desce finalmente de seu branco corcel, desembainha a espada e deixa-a cair numa poça de sangue. Todo o esforço fora em vão. O garboso Tunisino e seu fiel escudeiro Saganowski falharam.

Os Mouros – na pessoa colectiva do Estrela da Porcalhota – haviam conquistado o castelo de Guimarães e confirmado o inevitável: a Cruzada falhara e o tempo de Conquistas fora impiedosamente decapitado. Um golpe certeiro do agora Khazariano Semedo abalara o próprio solo onde Portugal um dia ousara ser Portugal.

E agora? Benachour só aqui sabia ser feliz. O seu passado tinha sido vazio de significado até chegar ao Minho. O futuro? Uma incógnita.

O Vitória, paixão-símbolo de uma Vida, chamamento finalmente descoberto, era finito.

Seguir-se-iam anos de exílio forçado, sem qualquer centelha de alegria ou sucesso.

Oh I, I just died in your arms tonight


sexta-feira, maio 27, 2011

Boavistão 2007-2008

Num ano que agora acaba... o Boavista morreu na praia No penúltimo minuto estava apurado para o acesso à II liga .. mas no último minuto o Padroense passou à frente.
Pobre Boavista... Poor GoodView..!!
Será então altura de lembrar que a última aparição do Boavista nos palcos da glória mostram um plantel.. completamente de loucos ..!!

Peter Jehle - Liechenstein - Um redes titular da pior selecção da Europa..!
Luciano Rissutt - Brasil - Defesa Central que passou completamente despercebido e joga agora no Ituano
Bryan Angulo - Colombia - Grande promessa de lateral esquerdo... mas que nem no Leixões despontou!
Marcelão!! - Grande Marcelão!! O homem dos tiros á entrada da área. Joga agora no Anápolis, do Brááásiuuuuu!!
Oladapo Olufemi! - Nigeriano, vindo do Anderlecht... mas que agora joga no Start, da Noruega..! e será que joga sempre de Start ou entra só no End?
Milan Gajic - Médio que está agora no Zurich e passou no Napredak da Eslovénia
Milos Bosancic  - Nada a dizer! Um grande cromo sem dúvida... Passou entretanto pelo Cuckaricki e Slovan Liberec.
Hussain Yasser . Vindo do Qatar, prometia muito...mas nem nos lembramos bem dele..! Mesmo assim, Zamalek e Al-Ahly, nao é nada mau!
Rafal Grzelak - Se calhar o nome mais sonante deste grupo. Polaco, estilo frio e de leste.. uns pés de ouro.. mas pouco mais. Mesmo assim andou por Steaua Bucareste, Xanthi e Lodz
Obi Charles - Nigeriano , possante, prometia ser um novo Yekini? Ye...que nao mesmo?! Entretanto passou por DOxa, Flamurtari, Suduroy e Yangon United. Mas que grande Curriculum. Vale a pena acompanhar... talvez para o ano esteja no Yjikolu da Malásia do Sul... ou o catano!
Samy Bangoura - o jogador com mais Curriculum antes do Boavista.., mas que depois também se eclipsou! Cadiz, Panserraikos e Smouha do Egipto foram os destinos seguintes!

E aqui ficam algumas das fronhas! podem jogar ao "Quem é quem?"







O que faz Jaime Pacheco aos jogadores, meu deus..
E sim, isto foi uma equipa do BOAVISTA... como é possível perguntam voces? Pois é...dói mas é verdade.

domingo, maio 08, 2011

Entre Duas Terras

MADRID – Seguindo a europeização dos nossos clubes, nós, Cromos da Bola S.A.D., atravessámos a fronteira e constatámos que o futebol português está na moda. E tudo se deve, sem grande margem para discussão, à popularidade magnetizante de Eliseu e Zé Castro, os verdadeiros embaixadores do perfume de futebol português. Alguns dirão que será por causa de um tal de Mourinho e desse garoto, o Cristóvão Ronaldo, mas não vos iludais. Os espanhóis gostam de coisas genuínas e não de produtos de marketing. Os sinais da paixão castelhana pela essência do futebol luso estão aqui, um pouco por todo o lado, da Plaza Mayor até às Ventas.
Na verdade, já em tempos demonstrámos o fascínio particular de que Vado goza junto de nuestros hermanos. É verdade; não há sinal de estacionamento proibido que se preze que não preste culto a Vado, como que a dizer, “se prevaricares, caro condutor, ficai sabendo que Vado vê tudo e não perdoará”. Está tudo nos versículos de Autuori, XVI-4, conforme referido por João Catatau na sua Grande Bíblia dos Sinais de Trânsito.

Vado consegue ser tão omnipresente que alguns sinais mais fundamentalistas advogam mesmo “Vado Permanente”. E se a moda pegasse? E se outros jogadores do nosso campeonato começassem a servir de complemento a sinais de estacionamento proibido? Será que iríamos parar para pensar? Será que cederíamos à tentação de ficar mesmo ali em vez de dar mais uma volta pelo quarteirão?

Talvez sim. Talvez esse seja só um mérito atribuível a Vado. Mas há uma coisa que Vado não consegue nesta cidade e que Secretário, de forma fantástica, chama a si com todas as forças: estar entalado entre Roberto Carlos e Seedorf na galeria de jogadores que ostentaram a camisola do Real Madrid, no respectivo museu.

E assim, Secretário saboreia oficialmente toda a glória que Beto bem almejou sem nunca conseguir. E, com a sorte de Beto, o mais provável era ele acabar entalado não entre dois nomes de dimensão mundial, mas entre personalidades da gama de Balboa ou de Totti. Disse Totti? Desculpem, eu queria era dizer “Tote”, esse delicioso avançado que fez escola como porta-coletes nos treinos no Estádio da Luz. Se Secretário pode, porque não Tote?

Mas o Real Madrid, magnânimo, tem coração suficientemente majestático para albergar mais individualidades do futebol indígena. Por exemplo, aqui é possível ver Zeferino, no canto superior esquerdo, defendendo as cores da Guiné no museu do Real Madrid, ao lado de Beckham, Puskas e novamente Seedorf. Nem nos mais distorcidos jogos de Football Manager seria possível imaginar semelhante combinação.

E há mais. Nesta parede, é possível captar-se parte do nome da formiga atómica que foi César Prates, o homem de passo galopante e calções curtos; a foto fugidia do companheiro PALOP de Zeferino, o cabo-verdiano Tinaia, outra promessa que ficou para cumprir num destes dias, provavelmente quando Portugal voltar a ser um país com excedente orçamental; e os portugueses, que incluem um tipo que perdeu o título de “next big thing” para Simão aos pontos, Edgar, indiciando que até o Real Madrid acredita em novos Eusébios de vez em quando. O Pepe não foi considerado nem como Brasileiro nem como Português, mas sim como uma “Máquina de Destruição em Movimento”, e foi colocado no espaço junto à máquina de café e à trituradora de papel.
De todos eles, Secretário é o nome que mais perplexidade gera nos madrilenos e facilmente constatámos isso. No museu, quando apontámos para Secretário, todos encolheram os ombros, entre algumas risotas do género “isto é para os apanhados?”, e houve mesmo quem julgasse que havíamos vandalizado o museu com aquela fotografia – para nosso azar, era o segurança e acabámos expulsos e a fugir da polícia pela Castellana abaixo. Não desistimos e vogámos pela cidade à procura de respostas, passando pela Plaza de Cibeles, onde já se aglutinava uma pequena multidão para comemorar mais um cabeceamento ao primeiro poste de Zé Castro ou um espectacular pontapé de canto de Eliseu. No meio de tanta celebração, tinha de haver alguém em Madrid que soubesse quem era o Secretário.


Reparámos naquele senhor que se dirigia para o portão do Palácio Real e questionámo-lo sobre Secretário. Ele era austríaco, achámos nós, e o máximo que aconteceu foi ele mostrar-nos a foto da filha que mantém numa cave há 15 anos alimentada a marmelada e a croissants aos quais o Pedro Barbosa só comeu o fiambre e deixou o queijo. Ou há 50 anos, percebemos mal alemão com sotaque. Depois abordámos aquele senhor vestido de azul que descansava junto às grades e que parecia muito sábio. Ele disse que sim senhor, lembrava-se perfeitamente do Edgar e nutria uma enorme devoção pelo Vado, mas Secretário nada. Estávamos prontos para falar com toda a gente desta praça até que a pessoa mais à direita ouviu as nossas preocupações, veio ter connosco e nos disse que sim, que sabia quem era Secretário e nos pediu educadamente para pararmos com estas perguntas, que era assunto sensível e tal. Essa pessoa pediu-nos anonimato, mas depois fomos beber uma caña de cerveza e comer uma tapa com ela no Mercado de S. Miguel e ficámos a saber que era uma tipa chamada Paula e que era muito boa na organização de eventos para grupos numerosos.

A Paula perguntou-nos se conhecíamos alguém que gostasse muito de brincadeira e nós recomendámos-lhe o Abiodun. Ela ficou agradada, embora nos tenha confidenciado que preferiria o Bodunha. Nós dissemos-lhe que também preferiríamos o Bodunha, porque compreende a ética kantiana como mais nenhum outro lateral, mas só o Abiodun é que tinha e-mail, porque o Bodunha ainda anda às voltas com o MS-DOS. Gravámos o contacto dele num presunto ibérico e oferecemo-lo à Paula, mas achamos ela não vai ter sorte, porque o Abiodun, para além de não saber parar uma bola, detesta spam e não costuma abrir attachments de gente que não conhece.
Antes de nos virmos embora, passámos ainda pelo estádio do Atlético. É um estádio esquisito, que tem uma via rápida a passar sob uma bancada, o que, no caso dos Super Dragões, daria um jeitaço enorme, porque podiam mandar simultaneamente bolas de golfe para os jogadores dentro do estádio e para o autocarro do Benfica na estrada.
E foi lá que pudemos ver o outro português que fez história nesta cidade, Paulo Futre. Estava lá com as maluquices dele, a fintar os automóveis junto ao estádio com o seu fabuloso pé esquerdo, concentradíssimo como sempre. Vale.

sábado, abril 23, 2011

O "Efeito Guano Apes" em Santo Tirso

N'outro dia ouvi Guano Apes, coisa que já não fazia há uns bons dez anos.

No princípio foi a fascinação do reencontro, o relembrar de memórias já recalcadas no armazém cerebral, relegadas para um canto forrado a teias de aranha, numa das poucas prateleiras não ocupadas com futebol, cerveja e fêmeas.

Depois, dei-me lentamente conta que afinal aquilo não era tão bom quanto isso. Pior, à medida que as faixas iam avançando, percebi que cada uma era mais básica e fraquinha que a anterior. Que as letras caminhavam inseguras em bicos de pés pela fronteira tripartida entre o infantil, o absurdo e a comédia não intencional.
...suponho que o avançar dos anos nos faça glorificar inconscientemente coisas que para nós tenham tido alguma relevância no passado - o que significa que no futuro acabaremos por ficar desapontados quando nos deparamos novamente com elas.

Bolísticamente falando, é possível que afinal a minha memória seja toldada pela tal glorificação do passado quando digo no café que o Caccioli fez uma média de quarenta e duas venenosas assistências/ano para golos de contra-golpe do Mangonga nas treze épocas que partilharam o relvado do Adelino Ribeiro Novo. Porém, folheando os Cadernos da Bola, vejo que apenas coçaram as respectivas partes baixas no mesmo balneário durante três épocas, de 92 a 95. E o Makopoloka Mangonga nunca marcou mais de sete golos num ano.

Oh well...chamemos-lhe o Efeito Guano Apes, ou "a memória da minha adolescência acabou de ruir como um castelo de cartas ao qual foi ateado fogo durante um terramoto de 9.2 na escala de Rochemback, seguido de um tsunami, a Júlia Pinheiro aos berros num megafone e uma queda de meteoros".
E com isto pusemos o Carlos Martins a chorar de novo. Calma, rapaz. Respira fundo que isso passa.
Mas o melhor exemplo da aplicação do "Efeito Guano Apes" na minha memória boleira nem é a proficuidade (ou falta dela) do Caccioli no que respeita ao destrocar de acintosos passes para golo.

Quando me perguntam por Santo Tirso, normalmente respondo algo incoerente que inclua os termos "jesuítas", "gajos com demasiado gel no cabelo", "doçaria conventual", "crianças de 8 anos a coser sapatos", "Lamborghinis" e "o grande Tirsense dos anos 90".
Posteriormente, começo a debitar informação mais ou menos fidedigna relacionada com esse período histórico da colectividade nortenha, enquanto me babo, imito expressões faciais do Paredão, esbracejo furiosamente, festejo golos do Marcelo através de mímica e faço o pino três ou quatro vezes. Sou um fã.*


Porém, olhando com frieza para trás, vejo que as três qualificações Europeias (quartos-de-final da Liga dos Campeões inclusivé), o 3º lugar em 1996, as duas Taças de Portugal, a presença do Caetano num torneio vencido pela Selecção Nacional**, e os 8-0 em Alvalade nunca aconteceram.
OK, uma delas aconteceu, mas as outras são pura ficção.

Será que o Tirsense nunca foi tão bom quanto o pintei na minha distorcida mente?
Será que foi tudo um lindo sonho?
Será que estamos perante o temido "Efeito Guano Apes"?

Sim. (pára de chorar, Martins. Cacete.)

Na verdade, durante os 90's, os Jesuítas Negros estiveram apenas cinco anos no escalão principal, tendo sido relegados à 2ª Divisão de Honra em três deles (16º em 90/91 e 92/93, e 18º [!!] em 95/96). Verifico dolorosamente que nunca passaram do posto (94/95), e que Caetano nunca foi o melhor marcador da 1ª Divisão (1934 - presente).
Uma merda, é o que é.
Porém, em Honra da minha memória daquilo que nunca foi o FC Tirsense, 'bora escarnecer e zombar de meia-dúzia de cromos.
















É fácil falar do Marcelo, do Caetano, Paredão e Siasia (aliás, tão fácil, que já falei de todos eles acima - e agora do Siasia também), mas quem é que se vai recordar destes dois trambolhos?

É demasiado simples ignorá-los: o José Carlos é uma espécie de Vítor Nóvoa do Tirso, um aquecedor de banco com um frontespício semelhante a 83% de todos os serial killers alguma vez registados. O Zé das Redes apenas realizou um mísero desafio em toda a época, dado encontrar-se na sombra do gigante Goran. Vem daí, se alguém encontrar o sérvio sem vida no leito de um rio, por favor não se surpreenda.Quanto ao Mota, também ele tem sósias. Aliás, não lhe chamaria sósias. Diria que o diminuto lateral tem sérias parecenças com uma meia cheia de laranjas. Não sei porque raio alguém iria encher uma meia com laranjas, mas imagino que caso o fizessem, o resultado iria ser semelhante à cara do Mota. E pronto...ao menos jogava à bola, coisa que o amigo José Carlos não podia afirmar com ar sério.

Mas há mais. Também temos o Jorge, que não tocava muito no esférico, mas tinha uma expressão facial de enfado assaz interessante. O Jorge só fez um jogo - mais uns trocos - na época da foto (95/96). Curiosamente, o Tirsense ficou em último lugar do Campeonato, com 17 derrotas e 53 golos sofridos. Vocês sabem do que estou a falar.













...e falta este cromo, que todos reconhecem do Farense. Mas o que faz ele em Santo Tirso?


Diria que não trabalha numa fábrica de têxteis, pois já não é propriamente uma criança. Pois bem, sucede que este Luisão (que é central como o outro, mas sem a embriaguez ao volante e a cabeça fálica), rastejou até ao Ave no final da carreira, onde se arrastou até ao final da época de 95/96. Felizmente, não teve oportunidade de se arrastar muito (5 jogos, 3 amarelos), evitando assim sujar o seu belo equipamento Reebok que ostentava orgulhosamente o ditame "Vale de Tábuas" ao peito. Ainda para mais, é parecido com a Grace Jones. Não sei se isso faz dele andrógino, até porque ela é bastante...hm...andrógina. Na pior das hipóteses, o Luisão é parecido com uma mulher que é parecida com um homem. Não sei se isso é bom, se é mau. Estou confuso.

Só sei que não voltarei a ouvir Guano Apes tão cedo.

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* foto gentilmente gamada daqui

** pois é: Caetano.

sábado, março 26, 2011

Zeferino Boal - Boals of Fire

Durante as próximas horas ficaremos a saber que Zeferino Boal terá sido quase eleito o novo Presidente do Sporting Clube de Portugal. Cromos da Bola, SAD associa-se à luta deste Homem, figura-sombra dos momentos mais cruciais da História da Humanidade no último Milénio. Fica aqui a cronologia dos seus feitos, em jeito de hommage:

1903 - Zeferino Boal nasce no dia 31 de Fevereiro. Até hoje, o único Homem a conseguir tal feito.

1904 - Participa na fase final das obras do Metropolitano de Nova Iorque, tendo sido até convidado a proferir o discurso de inauguração do mesmo (em sete idiomas diferentes). Como Zeferino tinha apenas um ano de idade, é Pedro Roma que o segura ao colo enquanto o petiz boaliza o texto perante uma plateia deliciada. Ficou célebre o par de frases "Quero que o Metro seja um ponto de encontro entre raças, credos, culturas e povos - um local de expressão para o melting pot nova-iorquino. Só peço uma coisa: que aqui nunca se espalhem cinzas de defuntos ex-cronistas assassinados com laptops e saca-rolhas devido a relações homossexuais mal resolvidas." A plateia riu-se com gosto, até porque ninguém tinha ouvido falar de laptops e homossexuais até então. "Silly kid", disseram eles embevecidos.

1908 - Pu Yi, então com dois anos de idade, ascende ao trono Chinês, tornando-se no mais jovem Imperador da História do País. Zeferino Boal perde as eleições para Pu Yi por dois votos apenas.
Porém, já que não regressa a Portugal com o título de Imperador, adquire os futuros direitos desportivos dos fetos dos progenitores daquilo que viriam a ser os futebolistas Wang Gang e Dong Fangzhuo. Oitenta anos volvidos irá escrever, realizar e produzir o filme "O Último Imperador", baseado nesta fase da sua vida. Perdeu o papel principal do seu próprio filme para Christian Bale por um simples voto.

1912 - Assume o comando do navio Titanic, chocando contra um iceberg, com os efeitos que se conhecem. Foi ilibado do desastre por ter apenas nove anos e não conseguir sequer chegar ao leme. Na viagem conhece o jovem defesa-central Idalécio, que lhe tentou vender uma loção para esconder cabelos grisalhos e acabou ligado a um fundo de investimento russo por 47 anos. Um contrato recorde na altura.
Oitenta e seis anos volvidos irá escrever, realizar e produzir o filme "Titanic", baseado nesta fase da sua vida. Perdeu o papel principal do seu próprio filme para Leo Di Caprio por três miseráveis votos.

1914 - Causa o despoletar da Primeira Guerra Mundial, ao assassinar involuntariamente o arquiduque Francisco Ferdinando quando tentava adquirir de forma demasiado agressiva os contratos de Péter Lipcsei e Ákos Buzsáky, então na pertença de Ferdinando. Absolvido por meio voto.

1919 - Dá por terminada a Primeira Guerra Mundial, assinando o Tratado de Versalhes por pensar que se tratava da transferência de Prokopenko para o Santa Clara.

1922 - Realiza a primeira travessia aérea do Atlântico Sul na companhia de Jesus Cristo, aquando da inédita tentativa de ir buscar um contentor de jogadores ao Brasil, onde conheceu os avós de Dinda, o pé-canhão.
Esta efeméride é erradamente atribuída à coragem e destreza de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, dado que os brasileiros acharam que o nome "Zeferino Boal" era demasiado ridículo - até para eles - e que ninguém iria acreditar na participação activa de Jesus Cristo.

1929 - É o causador da Grande Depressão, despoletando a Quinta-Feira Negra ao tentar vender em massa acções do Sport Lisboa e Benfica não cotadas em bolsa. Umas décadas mais tarde, Manuela Ferreira Leite inspirar-se ia nesta boalização bolsista para salvar o mesmo clube da extinção prematura.

1933 - Candidata-se a Chanceler alemão, perdendo para Adolf Hitler na moeda ao ar. Boal arrepende-se de ter escolhido "coroa", mas não conseguia pronunciar a palavra "cara" desde que vira a do Nito numa caderneta.

1935 - É parteiro no nascimento de Pedro Mantorras.

1937 - Torna-se na figura-chave da invasão japonesa à China, na tentativa de surripiar "o melhor jogador chinês da actualidade. Porquê? Porque vai vir todas as semanas charters de 400 ou 500 pessoas, tendo comissão de hotéis, restaurantes e museus. Vou abrir um departamento só para este jogador chinês." Zeferino nunca se arrependeu deste acto. O tal chinês, sim. Os japoneses também.

1941 - Parte numa aventura para descobrir o Santo Graal, conseguindo roubá-lo das garras Nazis, após uma série de peripécias pelo Mundo fora.
Quarenta e tal anos volvidos irá escrever, realizar e produzir o filme "Indiana Jones e a Última Cruzada", baseado nesta fase da sua vida. Perdeu o papel principal do seu próprio filme para Harrison Ford por um simples voto.

1945 - Assina a sentença de morte da Segunda Guerra Mundial, ao assassinar involuntariamente Adolf Hitler quando procurava adquirir de forma demasiado agressiva o contrato de Michael Kimmel, então na pertença do líder Nazi. Absolvido por 1/4 de voto e condecorado por 72 Nações diferentes, com a medalha de "Melhor Pessoa de Todo o Sempre".

1948 - Funda o Estado de Israel na tentativa de fazer uma mega-academia para talentos futebolísticos, porque sempre foi da opinião que "os judeus dão excelentes desportistas". Foi gozado durante várias décadas à pala desta afirmação.

1951 - Inventa a televisão a cores, porque está farto de tentar distinguir as cores dos equipamentos durante as transmissões de futebol.

1955 - Numa viagem aos Estados Unidos, obriga violentamente uma mulher chamada Rosa Parks a sentar-se na parte errada ao autocarro, pois sempre gostou mais dos lugares junto à janela, para poder assobiar às moças bonitas.

1957 - Funda a RTP1, dado ser da opinião que o País "merece ter 15 minutos de Boal todos os dias". Infelizmente, não conseguiu ter o seu próprio programa na TV que acabara de fundar - perdeu esse direito por dois votos.

1960 - Constrói sozinho e de raíz a cidade de Brasília em três dias apenas. Foi-lhe oferecido o cargo de Presidente Brasileiro, mas é expulso cinco minutos depois, por tentar obrigar toda a população masculina a assinar contratos desportivos não remunerados.

1965 - Assume toda a responsabilidade pela Beatlemania, confessando à BBC que todo o reportório dos Fab Four teria sido escrito por ele, e que o nome original da banda seria "Big Boals". Lennon e McCartney limitaram-se a dizer que o homem tinha um nome ridículo, enquanto admitiam essa possibilidade entredentes. Ringo Starr não sabia onde estava.

1968 - Prepara-se para uma reunião com representantes de um fundo de investimento polinésio no forte de Sto. António no Estoril, quando puxa desajeitadamente uma cadeira para se sentar. Atrás de si, cai um velhote desamparado.

1969 - É o primeiro homem a pisar a Lua, numa expedição interplanetária para descobrir jogadores baratinhos. Na viagem de regresso, Neil Armstrong convence-o a não contar a verdade à imprensa, tendo em conta que as frases "Boal's on the Moon!" ou "I'm watching Boal's landing on TV" se traduzem bastante mal na lingua inglesa.

1974 - Indignado com o preço do papel higiénico, pega na chaimite do irmão e vem para a rua protestar. Milhares de pessoas vão atrás dele. Cai a ditadura.

1974 a 1976 - Perde várias eleições em Portugal, todas elas por quatro votos ou menos.

1981 - Inventa o primeiro Computador Pessoal, por estar cansado de pagar balúrdios em revistas importadas da Malásia para ver conteúdos porno envolvendo anões asiáticos, mexilhões e chuteiras da Lacatoni.

1984 - Arranca uma costela a sangue frio e oferece-a a Deus para Este criar o Ser Perfeito: A 22 de Março, nasce Saïdou Madi Panandétiguiri.

1986 - Durante uma visita a Chernobyl tendo em vista a contratação de Djoincevic, Milovac e Barnjak a um fundo de investimento da Amazónia Oriental, come demasiado feijão com farofa e causa um desastre nuclear que nos anos vindouros nos viria a oferecer Petar Krpan.

1989 - Decide derrubar o Muro de Berlim com o intuito de arranjar uma boa justificação para trazer David Hasselhoff à Europa para dar um grande concerto - com sucesso. De seguida, perde as primeiras eleições da Alemanha Unificada por um voto apenas: o Kimmel vingou-se da trapalhada de 1945 e não foi votar à escola do filho.

1991 - Começa a usar camisas de flanela, porque são quentinhas. Estima-se que 342 biliões de adolescentes tenham seguido as suas pisadas.

1994 - Constrói o túnel do Canal da Mancha apenas com a mão esquerda e um palito de madeira em 24 minutos. Recusa o estatuto oficial de "Sir God" por respeito ao seu Papá, Deus. Perde também a oportunidade de ver o seu trabalho reconhecido, pois "Boal's Tunnel" poderia ter uma conotação desagradável em Inglaterra.

1999/2000 - Decide acabar com o Milénio. Ninguém se opõe.
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